Jay Kelly me deixou satisfeito do jeito certo: é um bom filme, daqueles que você assiste e percebe que existe cuidado, intenção e carinho pelo tema. Noah Baumbach constrói um drama leve, com humor no ponto certo, sem cair no piegas, sem exagerar no sentimentalismo. É um filme sobre cinema, mas principalmente sobre as pessoas que orbitam esse mundo sem nunca pisar no centro do palco.
George Clooney entrega exatamente o que o papel exige. Ele traz peso, magnetismo e a aura de um galã que já viveu seu auge, mas que ainda carrega charme suficiente para dominar qualquer ambiente. Clooney convence demais. É carismático, é amado pelo público dentro do filme e, ao mesmo tempo, completamente incapaz de demonstrar carinho às pessoas que realmente importam, como suas próprias filhas. É a contradição perfeita para um ator acostumado a viver de aplausos, mas incapaz de devolvê-los na vida pessoal.
Já Adam Sandler… quando ele entra no modo dramático, tudo funciona. Ele brilha. E aqui ele está no tom certo: contido, preciso, quase numa dramédia sem exagero. Nada daquele humor caricato típico dos filmes dele. O personagem dele, Ron, é agente do Jay Kelly e vive naquele equilíbrio estranho de ser amigo, funcionário e fã ao mesmo tempo. Para o Ron, existe uma amizade real. Para o Jay, uma convivência necessária. E o filme explora isso com muita elegância.
A química entre Clooney e Sandler é gostosa de ver. Você compra a ideia de que eles convivem há anos, mas também percebe o distanciamento emocional que existe ali — a mesma distância que o filme utiliza para explicar como Hollywood funciona. Jay é amado pelo público, querido pela indústria, admirado por quem nunca o conheceu. Mas não consegue oferecer afeto verdadeiro nem às pessoas que deveriam ser prioridade.
A história prende ainda mais para quem gosta de cinema. Não só pela trama, mas pela homenagem aos bastidores. O filme mostra atores, sim, mas celebra principalmente os agentes, produtores, equipes, toda a engrenagem que faz o cinema existir sem jamais ser aplaudida. Enquanto o ator recebe carinho do mundo inteiro, o agente recebe no máximo 15% e um “obrigado” ocasional. E segue. E trabalha. E abandona a própria vida para sustentar a do outro. Essa visão é o coração do filme.
Tecnicamente, Jay Kelly é um espetáculo silencioso. A fotografia é linda. A trilha sonora acompanha o tom emocional sem nunca chamar mais atenção do que deve. Mas o que realmente me pegou foi o figurino e as locações. O visual do Jay Kelly parece saído da era de ouro dos grandes astros de Hollywood, com aqueles figurinos elegantes, poses icônicas e fotos emolduradas pelas paredes de camarins e aviões. O filme entende o mito por trás de um ator famoso — e usa esse mito para expor a vida real por trás dele.
A edição é criativa e elegante. Há um momento em que estamos num trem apertado, uma porta se abre e, de repente, entramos num estúdio gigante em flashback. Depois voltamos pelo mesmo lugar, como se atravessássemos uma porta dentro da memória do personagem. Essa ideia de Jay Kelly observando seus próprios flashbacks, como se estivesse analisando a própria vida de fora, funciona muito bem.
No fim, o filme é sobre isso: a vida não te dá segunda chance só porque você é famoso. Não é porque o mundo te ama que sua família vai sentir o mesmo. Não é porque você está presente fisicamente que isso significa presença real. Jay Kelly descobre isso tarde demais — e essa é a força do filme.
Nota: 4/5
Jay Kelly
Data de lançamento no Brasil: 05 de dezembro de 2025
Direção: Noah Baumbach
Elenco: George Clooney, Adam Sandler, Laura Dern, Greta Gerwig, Billy Crudup,Emily Mortimer.
