Emilia Pérez é um daqueles casos curiosos de cinema recente. Chegou cercado de hype, indicações, premiações e um burburinho quase desproporcional. E, sendo sincero, nada do que está no filme justifica esse surto coletivo que se criou ao redor dele. É um filme que tenta ser muita coisa ao mesmo tempo, mas no final não entrega nada com profundidade. Tudo parece calculado para gerar polêmica e gerar conversa, quase como se tivesse sido escrito por um algoritmo do tipo “como ganhar indicações ao Oscar”.

A parte visual tem seus momentos. Existe um ou outro enquadramento interessante e algumas escolhas de cor que chamam a atenção, mas isso não é suficiente para sustentar um filme inteiro. Ele se apoia mais em ideias do que em execução, e quando parte para o musical, a coisa desanda. As músicas são sofridas de assistir, algumas desafinadas, e principalmente sem vida. Musical tem que emocionar, empolgar ou pelo menos fazer sentido dentro da narrativa. Aqui, vira peso.

A atuação de Zoe Saldaña é, de longe, o melhor elemento. E digo isso sem pensar duas vezes. Ela realmente está muito acima de todo o restante do elenco. É visível que ela segura o filme quase sozinha, mesmo quando o roteiro entrega situações absurdas. Ela merecia os prêmios, sim. Não é difícil ser o destaque de um elenco fraco, mas ela está acima até do que o próprio filme merece. Inclusive, classificá-la como coadjuvante foi estratégia pura para encaixar ela na categoria de premiação. Pelo tempo de tela e pela importância narrativa, ela é protagonista em tudo, menos na ficha técnica.

Do outro lado, temos a Selena Gomez em uma das atuações mais fracas da carreira. É sofrível mesmo. Um espanhol forçado, interpretações rasas e um roteiro que não ajuda. Ela acaba presa em caricaturas de “latina de cartão-postal”, e isso já começa errado desde os primeiros minutos. O filme segue uma cartilha de estereótipos sobre cultura mexicana que beira o ofensivo. Você começa com mariachis e termina com a personagem virando santa, e tudo isso sem coerência emocional no meio do caminho. É como se o filme tivesse decidido abraçar o clichê e dizer “vamos embora, ninguém vai reparar”.

Emilia Pérez foi indicado a muito mais do que merecia. Entre os indicados ao Oscar de 2025, é facilmente um dos mais fracos. Tem um número alto de indicações, mas qualidade mesmo, pouca. A sensação que fica é de que tentaram fabricar importância. E não deu certo.

Nota: 2/5

Emilia Pérez
Data de Estreia no Brasil: 06 de Fevereiro de 2025
Diretor: Jacques Audiard
Elenco: Karla Sofía Gascón,Zoë Saldaña, Selena Gomez, Édgar Ramírez