Código Preto é aquele tipo de filme que lembra como é bom assistir algo realmente bem-feito sem criar expectativa alguma. É um suspense enxuto, objetivo, com menos de uma hora e meia de duração, e isso já é meio caminho andado. Não se alonga, não inventa, não tenta parecer maior do que é. Soderbergh sabe exatamente o filme que está fazendo e não desperdiça um segundo.

A história funciona muito bem. É espionagem pura, só que sem o luxo das grandes produções do gênero. Nada de locações gigantes, perseguições megalomaníacas ou explosões artificiais. Aqui é tudo contido. Uma sala, um escritório, uma praça. E isso funciona demais. O foco não está no espetáculo, mas na tensão entre personagens, nas conversas, nas pequenas pistas que fazem a gente tentar adivinhar quem é o traidor. Tem momentos previsíveis, claro, mas nada que comprometa o jogo que o roteiro propõe.

O ritmo é excelente. O filme passa rápido, direto, sem gordura. É um daqueles thrillers que você percebe que acabou e pensa: era exatamente esse tempo que ele precisava.

As atuações são o ponto mais forte. Michael Fassbender e Cate Blanchett têm uma química natural que sustenta o filme com muita facilidade. A gente compra os dois como casal, compra o histórico deles, compra os conflitos. E o resto do elenco acompanha no mesmo nível. E não é qualquer elenco: Naomie Harris, Pierce Brosnan, Regé-Jean Page, Marisa Abela e Tom Burke. É um grupo pequeno, mas muito bem usado. O filme gira quase exclusivamente em torno deles, o que reforça o clima fechado, quase teatral, e tudo funciona.

Soderbergh está no seu estilo clássico. Enquadramentos elegantes, cortes precisos, aquela sensação de que cada cena está milimetricamente calculada sem parecer artificial. O visual é elegante demais, limpo, discreto, eficiente. É a estética dele aplicada com confiança. Nada chama atenção mais do que deve, mas tudo está no lugar certo.

O filme também conversa com temas atuais. É sobre espionagem moderna, sobre como a tecnologia virou parte da equação e como um agente hoje depende tanto de informação digital quanto de trabalho de campo. Não é um filme que tenta fazer discurso, mas deixa claro o peso dessa nova dinâmica.

Código Preto funciona para quem quer um bom filme de espionagem, mas também funciona para quem só quer algo rápido, objetivo e bem executado. Não tenta reinventar o gênero, mas faz tudo com tanta precisão que acaba se destacando justamente por isso.

Nota: 4/5

Código Preto (Black Bag)
Data de Estreia no Brasil: 13 de Março de 2025
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Michael Fassbender, Cate Blanchett, Naomie Harris, Pierce Brosnan, Regé-Jean Page, Marisa Abela e Tom Burke.