Hoje é dia de falar sobre o filme número 90 da lista dos 100 melhores filmes brasileiros de acordo com a Abraccine, Associação Brasileira de Críticos de Cinema. E é um clássico do terror, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de 1966.
O longa é dirigido e estrelado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão.
Antes de falar sobre o filme, tenho que falar sobre Mojica e seu Zé do Caixão. É um dos principais casos de não valorização do público brasileiro. Fora do país, principalmente no circuito do terror, José Mojica Marins é um ícone. Já aqui no Brasil, principalmente para o grande público, quase uma chacota, infelizmente. Seus filmes não são tão prestigiados aqui como deveriam.
Pelo menos na lista da Abraccine ele aparece três vezes. É pouco, levando em conta os mais de 40 filmes em sua filmografia, mas já é um começo.
Agora falando de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver em si, o longa é simplesmente surpreendente. A fotografia em preto e branco é uma das coisas mais belas que vi, isso sem falar quando temos algumas cenas coloridas, as cenas do inferno.
Lembro de quando assisti a esse filme na adolescência e quando chegou nessas cenas, meu queixo caiu. Não tinha visto algo assim, com tanta beleza, nos filmes de terror até então. Principalmente num filme brasileiro.
O longa é precário, sim. Tem algumas atuações amadoras, claro. Mas isso não tira o mérito aqui. Um filme da década de 60 a frente de seu tempo. Que assusta mais que filmes recentes
Com certeza vale assistir Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, principalmente se você gosta de filme de terror.
Nota: 3,5/5
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Direção: José Mojica Marins
Roteiristas Aldenora De Sa Porto e José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins, Tina Wohlers, Nadia Freitas, Antonio Fracari entre outros
Hoje vou falar sobre o filme nº 91 da Lista dos Melhores filmes da Abraccine, Cabaret Mineiro, de 1980.
Dirigido por Carlos Alberto Prates Correia, Cabaret Mineiro é o primeiro musical da lista, o que vale o destaque logo de início.
Com uma narrativa não linear e várias histórias paralelas, Cabaret Mineiro beira à confusão. É um dos filmes mais estranhos até o momento dessa lista
E confusão com certeza era a intenção do diretor. Carlos Alberto Prates Correia abusa de diversos enquadramentos estranhos, trilha sonora experimental e atuações diferenciadas.
Sobre os enquadramentos, por exemplo, o filme não se preocupa em manter um padrão entre eles. Aqui quanto mais ousado melhor.
Por falar em ousadia, o longa tem algumas cenas de nudez bem provocativas. Provocativas também são as canções da película. É um musical peculiar.
E o que falar sobre as atuações: eloquentes, quase teatrais.
Vale destacar aqui o ator Nelson Dantas, que é o personagem principal da história. Ele é um dos mais teatrais aqui. Uma ótima atuação inclusive, mas nem todas as atuações valem o destaque. Alguns atores beirando em Cabaret Mineiro beiram o amadorismo. Mas isso com certeza é para instigar o espectador.
Cabaret Mineiro, além de ser considerado musical, é tratado como um drama, porém arrancou algumas boas risadas em diversos momentos, como uma comédia nonsense. Com certeza não era essa a intenção.
Cabaret Mineiro não é para todos os públicos. Mas talvez agrade você do outro lado, como agradou a crítica em Gramado e Brasília, tradicionais festivais de cinema Brasileiro. O longa ganhou oito prêmios nestes festivais, incluindo Melhor Filme.
Para mim, infelizmente não funcionou. Foi uma viagem que deu errado.
Nota: 2/5
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Direção: Carlos Alberto Prates Correia
Roteiristas: J. Guimarães Rosa e Carlos Alberto Prates Correia
Elenco: Nelson Dantas, Tamara Taxman, Tânia Alves, Louise Cardoso, entre outros
Chuva de Verão Diretor: Cacá Diegues Elenco: Com Jofre Soares, Miriam Pires, Daniel Filho , Marieta Severo , Gracinda Freire , Paulo César Pereio, Rodolfo Arena, entre outros Duração: 1h 33m
Hoje falo sobre o nº 92 da lista da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema): Chuvas de Verão (1977).
No longa dirigido e roteirizado por Cacá Diegues acompanhamos o protagonista Afonso, vivido por Jofre Soares e amigos vizinhos. Afonso acaba de se aposentar e programa o resto de sua vida “ficar de pijamas sem fazer nada”.
Porém essa programação é abalada por acontecimentos inesperados, acontecimentos próximos de Afonso, de amigos, de familiares, etc.
Diegues mostra em seu filme que todos tem seus segredos.
Na intimidade todos podem ser o oposto da imagem pública, como por exemplo a própria filha de Afonso, Dodora (Marieta Severo) e seu marido Geraldinho (Daniel Filho), ou até mesmo na “puritana” Isaura (Miriam Pires), de quem Afonso se interessa. Esses e outros personagens secundários aparentam ser algo, mas durante o filme vemos que não é bem assim.
Se for para destacar algum desses personagens secundários, destacaria o vizinho de Afonso, Lourenço, vivido por Rodolfo Arena. Lourenço aparenta ser uma boa pessoa. Também aposentado como Afonso, ele sempre tem algo para o amigo e para os vizinhos. Mas no fundo Lourenço é um dos piores, senão o pior de todos.
Todos nesse longa querem ser o que não são. Todos aparentam algo, mas na realidade são outra coisa. Todos querem ser algo que não são. Todos tem seus segredos. E a qualquer momento todos esses segredos podem ser revelados, o que gera vários momentos de.
O roteiro de Cacá Diegues traz muito bem esse sentimento de tensão para o espectador. O que irá acontecer a seguir? Será que esses segredos dos personagens serão revelados? E quais serão as consequências dessas revelações?
Chuvas de Verão foi um filme interessante de ser visto, pois traz à tona reflexões sobre aparências e o que as pessoas realmente são. É um tema que nunca deixou de ser atual.
Se transpormos para hoje, em um mundo dominado pelas Redes Sociais, onde as pessoas se apresentam publicamente de uma forma, mas no íntimo são opostos, são \”Afonsos\”, \”Lourenços\”, \”Dodoras\”, \”Geraldinhos\”, etc.
Pra começar, drama não é o meu gênero favorito, mas geralmente assisto aos filmes mesmo
assim. Inclusive, antes de começar a falar sobre o filme em si, faço essa recomendação, sai da sua zona de conforto. Assista a filmes de gêneros que você normalmente não gosta, pois a chance de se surpreender é grande, mas voltando ao filme.
No caso aqui do filme brasileiro A Vida Invisível o drama é um dos mais intensos que vi nos últimos anos. Sério, que drama intenso.
A Vida Invisível se passa no Rio de Janeiro dos anos 50 onde as irmãs Guida e Euridice, vividas respectivamente pelas atrizes Julia Stockler e Carol Duarte, irmãs bastante unidas.
Mas por escolhas, que elas nem tiveram, foram separadas por toda vida.
Não vou falar mais da história em si pra não estragar a experiência de quem ainda não assistiu A Vida Invisível.
Só pra deixar registrado, eu saí depois de assistir a esse filme dirigido pelo Karim Aïnouz bastante triste, mas isso não foi ruim.
Eu costumo falar que quando um filme traz um sentimento tão forte, independente qual seja esse sentimento, seja alegria ou tristeza, significa que o filme funcionou. E sem dúvida o drama nesse filme funciona. A todo momento durante o filme eu tentava imaginar como seria viver a vida dessas personagens principais, as irmãs Guida e Eurídice.
Cada uma das irmãs sofriam e iam vivendo sofrendo. Elas sofriam problemas distintos em momentos distintos. Mas a todo momento o filme mostrava essa ligação entre as irmãs. O forte em A Vida Invisível é sem duvida nenhuma o elenco.
Aqui cada ator e atriz entrega o necessário ao personagem, sem forçar nada.E por falar em elenco, os momentos finais do filme com Fernanda Montenegro como Eurídice são fantásticos. Em um minuto de cena, Fernanda Montenegro mostra porque é essa lenda viva do nosso cinema. Sério, um minuto.
Ela pega algo em cena e o olhar que ela faz é tão intenso que é de arrepiar. Mas não é só a Fernanda Montenegro, como eu disse todo elenco de A Vida Invisível é fantástico
.A única coisa que eu mudaria em A Vida Invisível seria a duração. O longa poderia ser um pouco menor. As mais de duas horas poderiam ser reduzidas facilmente.
Falo que poderia ser reduzido pois realmente o filme me deixou bastante pra baixo.Duas horas de puro de sofrimento. E como disse antes, se o filme trás uma emoção, ponto positivo.
Se você gosta de drama, recomendo você assistir A Vida Invisível. Vale demais a pena.
Antes de começar a falar sobre o filme em si, gosto de ressaltar o que falo quando o longa é o primeiro trabalho de um diretor ou diretora: É tão bom quando a pessoa começa com o pé direito no cinema. É ótimo ver um diretor ou diretora estreando de forma excelente em seu primeiro longa-metragem.
João Paulo Miranda Maria começa com o pé direito em \”Casa de Antiguidades\” e já se destaca em grandes festivais. Além da direção, João Paulo Miranda Maria também assina o roteiro, que é bem interessante.
O filme tem como protagonista um senhor negro imigrante de cerca de 70 anos, ou seja, três fatores de preconceito que são abordados durante boa parte da história.
No longa vemos o personagem do senhor, interpretado por Antônio Pitanga, um excelente ator brasileiro, enfrentando diferentes tipos de preconceito ao longo do filme, seja por ser idoso, negro ou imigrante. Ele mora no sul do país, em um futuro distópico, em uma região que deseja se separar do Brasil e que não aceita pessoas de outros estados. É uma região sul bastante racista.
O filme aborda esses assuntos polêmicos, o que é muito bom. O cinema precisa falar de política e discutir outros assuntos considerados polêmicos, e isso é interessante.
A atuação de Antônio Pitanga é muito precisa nesse filme. Ele consegue transmitir seus pensamentos e emoções apenas com os olhos em algumas cenas, sem dizer uma palavra sequer. É impressionante como compreendemos o que ele está pensando por meio do olhar.
Uma coisa que chamou minha atenção em \”Casa de Antiguidades\” foi que, quando o personagem fala durante a maior parte do tempo, o foco não está nele, mas sim na reação da pessoa que está ouvindo. Isso é bastante interessante de se ver.
Outra coisa queme chamou muito a atenção em \”Casa de Antiguidades\” , foi o designe de produção. Pequenos detalhes como adereços nas paredes ou até mesmo reflexos em janelas ajudaram a contar a historia.
Como mencionei, o filme trata de assuntos polêmicos, como racismo, maus-tratos aos idosos, falta de saneamento básico e política.
Então Casa de Antiguidades pode não agradar a todos, mas vale a pena.
Nota: 3/5
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Direção: João Paulo Miranda Maria
Roteiristas: João Paulo Miranda MariaFelipe Sholl
Elenco: Antonio Pitanga, Ana Flavia Cavalcanti, Sam Louwyck, Soren Hellerup, entre outros
Hoje é dia de falar sobre o filme nº 93 da Lista dos Melhores Filmes Brasileiros segundo a Abraccine: “Dois Córregos: Verdades Submersas no Tempo” de 1999.
Dirigido por Carlos Reichenbach, o longa mostra Ana Paula, vivida por Beth Goulart, lembrando de seu passado numa casa na cidade de Dois Córregos. Na adolescência a mesma personagem Ana é vivida por Vanessa Goulart.
E durante boa parte do filme vemos o relacionamento de Ana com sua amiga Lydia (Luciana Brasil), Tereza (Ingra Liberato) e o tio Hermes (Carlos Alberto Riccelli).
Inclusive o personagem de Riccelli é o fio condutor da história. São as ações dele que fazem a história mover.
“Dois Córregos: Verdades Submersas no Tempo” é mais um olhar sobre a Ditadura no Brasil entre os filmes escolhidos pela Abraccine, mas é um olhar diferente do já mostrado nos filmes anteriores. É um olhar quase intimista.
O grande destaque aqui no filme é sem dúvida suas belas locações. As imagens a beira dos córregos, imagens aéreas da cidade, entre outras, são magnificas. A trilha sonora também é algo que merece o destaque. Durante várias cenas do filme se ouvem músicas tocadas no piano dentro da casa e elas são executadas pela atriz Luciana Brasil. Ponto forte do filme.
Já algo que não se destaca são as atuações dos personagens secundários, mas nada que prejudique a experiência. Tirando os já citados acima, os demais atores/atrizes deixam a desejar por serem amadores.
Mas como disse, isso não prejudica na experiência do filme, pois na maioria do tempo em”Dois Córregos” as atuações são mais contidas, principalmente do personagem de Riccelli. O personagem dele é mais contido para evitar problemas e quando o mesmo extravasa, tem de tomar uma decisão que vai mudar tudo, por isso falei que é o personagem que faz a história mover.
“Dois Córregos: Verdades Submersas no Tempo” é um filme interessante, visualmente muito bonito e com uma história, baseada em fatos, contida, mas que mostra com certeza a que veio.
A primeira vez que assisti a Central do Brasil eu tinha 14 anos e confesso que achei muito ruim, mas eu era muito imaturo na época.
Agora, depois de mais de 20 anos, decidi dar uma segunda chance para \”Central do Brasil\” e foi a melhor coisa que fiz. Finalmente entendi porque o filme é um clássico do nosso cinema. O longa muito bom mesmo.
A fotografia deste filme é maravilhosa, com algumas cenas que se destacam.
Lembro de uma cena específica que me chamou bastante atenção, em que mostrava uma igreja no meio do sertão, parecendo uma pintura. A direção de Walter Salles é precisa, assim como a trilha sonora. Mas o destaque são as atuações. Todo o elenco secundário é muito bom, mas claro que tenho que falar de Fernanda Montenegro.
Finalmente, entendi quando as pessoas dizem que ela foi roubada no Oscar. Realmente, ela merecia todos os prêmios pelo seu trabalho em \”Central do Brasil\”. Sua atuação está impecável. Acompanhamos todo o arco da personagem, passando por diferentes sentimentos: começamos com raiva, depois sentimos dó e novamente raiva. É uma sequência de emoções muito bem construída com a personagem de Fernanda Montenegro.
Uma coisa que recomendo para aqueles que não gostam de \”Central do Brasil\” é dar uma segunda chance.
Talvez você tenha assistido quando o filme foi lançado, naquela época em que eu realmente não gostava dele e não tinha maturidade para apreciar.
Conforme fui amadurecendo meu gosto pelo cinema, descobri vários filmes nacionais que aprecio, então por que não \”Central do Brasil\”? Eu dei uma segunda chance e tenho certeza de que você vai olhar o filme com outros olhos.
Valeu muito a pena assisti-lo vinte anos depois do lançamento e vinte anos depois de eu tê-lo assistido pela primeira vez.
Sério, compensa demais. Se você ainda não deu uma chance, ou uma segunda chance para \”Central do Brasil\” agora é uma boa hora.
Tenho certeza de que você vai gostar.
Nota: 5/5
—
Direção: Walter Salles
Roteiristas: Marcos Bernstein, João Emanuel Carneiro, Walter Salles
Elenco: Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra
Hoje é dia de falar sobre o filme nº 94 da Lista dos Melhores Filmes segundo a Abraccine: Aruanda de 1960.
Esse é mais um curta da lista dos Melhores Filmes, mas não perde em nada para os longas até então assistidos.
No início do curta dirigido por Linduarte Noronha acompanhamos uma família saindo de sua casa em pleno Sertão da Paraíba a procura de se estabelecer próximo a água. Depois acompanhamos outras famílias no Quilombo em Serra do Talhado. E assim como a primeira família mostrada, vemos o sofrimento de uma vida. Famílias que tentam sobreviver, seja com plantação de algodão, seja com artesanato. Famílias que tentam sobreviver em meio a miséria.
As imagens preto e branco ressaltam ainda mais essa miséria de um povo que vive semanalmente com “300 a 400 Cruzeiros por família”. Tentei converter tal valor e cheguei a menos de R$0,50. Algo absurdo, não só em tempos atuais, mais naquela época também.
Durante os pouco mais de 20 minutos de curta acompanhamos pessoas abandonadas pelo Estado, mas que lutam para sobreviver em um lugar desumano. É um choque ver a forma que pessoas viviam (e vivem) no Brasil e toda a desigualdade.
Antes de começar, foi bem interessante re-assistir Carandiru, principalmente depois de assistir a Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou, filme que vai representar o Brasil no Oscar em 2021.
No filme de Barbara Paz, cuja critica você ouve aqui ou assiste aqui, temos um apanhado breve pela vida de Hector Babenco. E um dos principais filmes dessa carreira, esse que vou falar aqui, Carandiru.
Carandiru foi dirigido pelo Babenco em 2003, com base no livro Estação Carandiru do médico Dráuzio Varella. Li esse livro há algum tempo, não me recordo a data precisa, mas recordo que a leitura foi bastante fluida, apesar dos temas densos narrados.
Aqui no filme do Babenco esses temas densos estão em sua essência, mas a adaptação deixa um pouco a desejar. Carandiru é sem dúvidas um grande filme, não é esse o ponto aqui. Mas o livro tem um aprofundamento melhor.
O elenco de Carandiru são um dos grandes méritos do filme. Nomes como Rodrigo Santoro, Gero Camilo, Ailton Graça, Lázaro Ramos, Enrique Diaz, Wagner Moura, são alguns dos atores envolvidos. E cada atuação surpreende. Não há porque destacar uma ou outra atuação, sendo que aqui o coletivo é o mais forte. A vida dos presidiários e demais envolvidos é retratada com uma certa dose de crueza e ao mesmo tempo retratada de forma humanizada. Mérito de Babenco e sua equipe.
Outro mérito de Carandiru, sem dúvidas são os cenários do filme, cada um mais realista que outro. Falo aqui dos cenários construídos, não do próprio Carandiru que foi utilizado em algumas cenas. A magnitude da casa de detenção é impressionante e assustadora.
Carandiru não é um filme para todos, mas com certeza é um filme que deveria ser assistido por todos, tanto para conhecer historias, quanto para conhecer a história trágica do próprio local e dos reais detentos.
Antes de começar, foi bem interessante re-assistir Carandiru, principalmente depois de assistir a Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou, filme que vai representar o Brasil no Oscar em 2021.
No filme de Barbara Paz, cuja critica você ouve aqui ou assiste aqui, temos um apanhado breve pela vida de Hector Babenco. E um dos principais filmes dessa carreira, esse que vou falar aqui, Carandiru.
Carandiru foi dirigido pelo Babenco em 2003, com base no livro Estação Carandiru do médico Dráuzio Varella. Li esse livro há algum tempo, não me recordo a data precisa, mas recordo que a leitura foi bastante fluida, apesar dos temas densos narrados.
Aqui no filme do Babenco esses temas densos estão em sua essência, mas a adaptação deixa um pouco a desejar. Carandiru é sem dúvidas um grande filme, não é esse o ponto aqui. Mas o livro tem um aprofundamento melhor.
O elenco de Carandiru são um dos grandes méritos do filme. Nomes como Rodrigo Santoro, Gero Camilo, Ailton Graça, Lázaro Ramos, Enrique Diaz, Wagner Moura, são alguns dos atores envolvidos. E cada atuação surpreende. Não há porque destacar uma ou outra atuação, sendo que aqui o coletivo é o mais forte. A vida dos presidiários e demais envolvidos é retratada com uma certa dose de crueza e ao mesmo tempo retratada de forma humanizada. Mérito de Babenco e sua equipe.
Outro mérito de Carandiru, sem dúvidas são os cenários do filme, cada um mais realista que outro. Falo aqui dos cenários construídos, não do próprio Carandiru que foi utilizado em algumas cenas. A magnitude da casa de detenção é impressionante e assustadora.
Carandiru não é um filme para todos, mas com certeza é um filme que deveria ser assistido por todos, tanto para conhecer historias, quanto para conhecer a história trágica do próprio local e dos reais detentos.
O número 96 da lista dos 100 melhores filmes é um curta. E que curta meus amigos leitores do Alguma Coisa de Cinema.
Passei os 26 minutos de “Blá Blá Blá”, de Andrea Tonacci, vidrado na tela. A atuação de Paulo Gracindo como um ditador de um país como Brasil é de cair o queixo.
O ditador vivido por Gracindo passa boa parte do curta em tela fazendo um discurso à nação, daí o título do filme, “Blá Blá Blá”. Ele fala muito, mas ao mesmo tempo não diz nada lógico. É um discurso que tem seus momentos de tranquilidade, mas em sua maioria é explosivo.
E é aqui que esse discurso é assustador. Um filme de 1968 tem um discurso político que pode se encaixar em um Brasil de qualquer época, do passado ao presente. Governantes achando que são “Deuses”, que podem fazer tudo, que pode declarar guerra contra todos, que tem seus seguidores fiéis, etc.
“Blá Blá Blá” é um curta de ficção, mas que poderia se passar por um documentário de época. Ressaltei a atuação de Paulo Gracindo, mas outros personagens como por exemplo Nelson Xavier contrapõem, mesmo que rapidamente, o ditador.
Depois de assistir “Blá Blá Blá” fiquei ainda mais admirado com a coragem que alguns cineastas tinham em tocar em feridas. Costumo dizer que o Cinema é a arte ideal para se falar de Política, como aqui nesse curta.
“Blá Blá Blá” pode não agradar a todos. Deve incomodar muitos, pela sua semelhança com as realidades da Política do Brasil. Mas com certeza merece demais estar nessa lista dos Melhores Filmes Brasileiros. Simplesmente Fantástico.